Walking in my shoes
A verdade é esta (se só houver uma): ninguém sabe bem o que é ser outro. Convém talvez entender que, ao contrário do que parece, a filosofia não é para aqui chamada e é bom que não se apresente, a menos que venha mais magra, sem barriga, capaz de aguentar cem metros de corrida veloz e uma hora de piscina. O que não se sabe, dizia eu, é isto: vestir outras camisas, ter os sapatos noutra casa, ter mãos e anéis maiores ou pequenos como dantes, guardar segredos que não se conhecem, andar na rua com passos esticados por pernas alheias, ter outra voz, o coração trocado, chegar um pouco tarde ao cinema e já lá estar sentado duas filas à frente, escolher outras palavras para explicar as mesmas coisas ou tocar às campainhas com uma dezena de gestos diferentes, os dedos e o corpo marionetas de uma estrangeira intuição. E, no entanto, queremos entender e ser entendidos (esta sim, a mais velha profissão do mundo).
Daniel M.
Daniel M.
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