Most of the time
A voz que anuncia as chegadas e partidas é igual em todos os lugares. Indiferente às latitudes e longitudes que tudo transformam, essa voz preserva, teimosamente, o mesmo ímpeto nas palavras, o mesmo tom arrastado. O homem de bigode que numa cabine em Berlin-Ostbahnhof comunica o atraso no comboio das 6:42 para Varsóvia é também a senhora inglesa que na estação de Waterloo indica a nova plataforma para os passageiros com destino a Brighton. E é também a menina de Campanhã e a italiana nervosa de Fiumicino. Não é difícil acreditar nisto. Difícil é olhar para trás ou para a frente e ser quotidianamente o corpo em sossego ou o mamífero inquieto das cidades. O presente, já se sabe, não existe, o que faz com que eu não esteja agora a espreitar pela janela o avanço do comboio mas sim a demorar-me em casa, atravessando o quarto e os corredores e a lembrar-me de outros quartos e de outros corredores.
Daniel M.
Daniel M.
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