Rádio Pirata do Ar #35
Há quinze anos, há uma década atrás, a quadra natalícia era temida pelos sportinguistas porque inaugurava o seu desencanto com a equipa, revelando onze rapazes demasiado pálidos para a ambição dos fiéis, pois afinal o avançado nórdico não era tão talentoso como o sol em Agosto ou a capa do Record tinham prometido e o bolo rei trazia sempre mais favas do que frutos secos. Nesse tempo, à custa de uma promessa, bebia-se café quase de borla num estabelecimento de Coimbra na Rua do Brasil onde, viria eu a descobrir mais tarde, se servem umas belas aves galináceas de arribação devidamente condimentadas: as codornizes.
O Natal era uma espécie de Casal Ventoso para o Sporting, o lugar que marcava o início do fim. Depois mudaram-se os hábitos e o hábito, como sabia Aristóteles (médio do AEK de Atenas) é uma «segunda natureza». Destruído o Casal Ventoso dos leões, a equipa habituou-se a tratar da própria morte onde calhava. Mais perto do Verão se fosse preciso. Uma vez encontravam-se todos em casa com a mesa posta para uma equipa de russos e dois brasileiros - que certamente passavam o dia a beber vodka em Moscovo até aquilo se trasformar numa réplica tosca do Rio de Janeiro - e, de tanto procurar, acabaram por descobrir uma forma de perder, de se perder de amores pela desilusão enquanto as visitas se escapavam exultantes com as louças e talheres, o serviço completo a caminho do leste. É isto o Sporting.
O Benfica não mora longe mas padece de uma patologia distinta. O Benfica, na cabeça dos seus adeptos, joga ainda nos anos 60, a preto-e-branco, numa televisão pequenina encimada por um naperon de renda e tem a glória toda. O Mantorras é o Eusébio e o Petit parece Grande. A realidade importa pouco e é o que os safa de maiores tormentos. O Benfica só sai à rua acompanhado, o passado guiando-o como o cão aos cegos, e nunca leva apenas onze jogadores para o campo. Os vermelhos jogam permanentemente com centenas de futebolistas, alguns já defuntos e que se levantam ao fim-de-semana para exercer a profissão que jamais os deixará repousar em sossego. O Lobo Antunes às vezes também aparece e nesses dias o Coluna joga melhor, com outra eloquência.
Baptizar o estádio como «da luz» foi uma grande ideia mas não trouxe sempre milagres no fim do túnel, quem sobe para o relvado.
E o Rui Costa não demora nada. Se o Berlusconi aceitar (um verbo complicado para a criatura), ele vem já amanhã e nem precisa de nevoeiro.
Sobre o Porto também tenho um ou dois parágrafos destes mas fica para depois do champanhe. São servidos?
Daniel M.
O Natal era uma espécie de Casal Ventoso para o Sporting, o lugar que marcava o início do fim. Depois mudaram-se os hábitos e o hábito, como sabia Aristóteles (médio do AEK de Atenas) é uma «segunda natureza». Destruído o Casal Ventoso dos leões, a equipa habituou-se a tratar da própria morte onde calhava. Mais perto do Verão se fosse preciso. Uma vez encontravam-se todos em casa com a mesa posta para uma equipa de russos e dois brasileiros - que certamente passavam o dia a beber vodka em Moscovo até aquilo se trasformar numa réplica tosca do Rio de Janeiro - e, de tanto procurar, acabaram por descobrir uma forma de perder, de se perder de amores pela desilusão enquanto as visitas se escapavam exultantes com as louças e talheres, o serviço completo a caminho do leste. É isto o Sporting.
O Benfica não mora longe mas padece de uma patologia distinta. O Benfica, na cabeça dos seus adeptos, joga ainda nos anos 60, a preto-e-branco, numa televisão pequenina encimada por um naperon de renda e tem a glória toda. O Mantorras é o Eusébio e o Petit parece Grande. A realidade importa pouco e é o que os safa de maiores tormentos. O Benfica só sai à rua acompanhado, o passado guiando-o como o cão aos cegos, e nunca leva apenas onze jogadores para o campo. Os vermelhos jogam permanentemente com centenas de futebolistas, alguns já defuntos e que se levantam ao fim-de-semana para exercer a profissão que jamais os deixará repousar em sossego. O Lobo Antunes às vezes também aparece e nesses dias o Coluna joga melhor, com outra eloquência.
Baptizar o estádio como «da luz» foi uma grande ideia mas não trouxe sempre milagres no fim do túnel, quem sobe para o relvado.
E o Rui Costa não demora nada. Se o Berlusconi aceitar (um verbo complicado para a criatura), ele vem já amanhã e nem precisa de nevoeiro.
Sobre o Porto também tenho um ou dois parágrafos destes mas fica para depois do champanhe. São servidos?
Daniel M.
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