Oitentar
Os anos 80 são a infância da tecnologia na música, o uso ainda primitivo dos primeiros instrumentos baratos para manipulação do som e o aparecimento de cada vez mais sofisticadas ferramentas nas mãos dos produtores, até então quase todos rapazes de poucas palavras, com um jardim demasiado estreito onde brincar e horas certas para chegar a casa. Isso justifica a preponderância, na altura, desses sintetizadores como que comprados na feira de Espinho, a contrafacção das orquestras, a electrónica sem máscaras, ainda crua, e também a vontade de ter toda a percussão metida à força numa caixa de ritmos ou um baterista-robô, um certo encanto tosco em experimentar os botões novos e, se possível, guardar dez efeitos manhosos na guitarra para cada cor de luz – eram muitas - no palco. Por isso é que as músicas dessa década nos fascinam tanto. Agradam-nos porque possuem uma ingenuidade no tratamento do som que acompanhava a nossa ingenuidade na relação com o mundo. Os anos 80 não são as canções pois mesmo as dos anos 60 servem se devidamente condimentadas. A Kim Wilde ajuda-me a explicar isto com um tema das Supremes e uma t-shirt não suficientemente comprida para lhe ocultar as pernas.
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