Oito
Quarta-feira acordei com oito anos de idade. Não foi desagradável. A minha mãe tinha-me escolhido a roupa e, em frente ao espelho, a pequena onda no cabelo mostrava-se invencível, como sempre, resistindo aos movimentos impetuosos do pente (já não me lembrava). O meu caracol-aldeia-de-Asterix. Ao pequeno-almoço disse duas frases brilhantes para a idade (é mentira) e comi um pão com manteiga, despacha-te daniel, mas pouca, já vou. Para meu sossego, no caderno a cópia aparecia completa («A Toda a Vela 3», pag. 18) e as palavras difíceis, quase todas esdrúxulas, repetidas umas quantas vezes com uma letra domesticada a custo. Teria sido tramado acordar de manhã com oito anos e os deveres ainda por fazer. Felizmente a coisa estava bem organizada. Depois cresci como o raio durante o dia. Pelas dez da noite já estava um homem feito e os meus pais sem lata para me mandar recolher ao quarto e dormir.
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