Se o rei não vai nu, anda bastante despido
A mim não me enganam eles (que esperto). Sob o pretenso argumento da busca de talentos, de um entretenimento com substância, funciona apenas uma máquina de cifrões brutal e pouco mais do que isso. Os criadores do «Pop Idol», «Operação Triunfo» e os outros que lhes seguiram as pisadas, converteram-se em sorridentes milionários num abrir e fechar (sobretudo fechar) de olhos, através duma ideia de programa que só à superfície parece ter algo que ver com música pois a verdade é que, nos pisos inferiores, nas entranhas da coisa, a música é outra. Aliás, a mesma fórmula foi usada depois com diversos disfarces (dança, por exemplo, comigo, por exemplo). Os canais de televisão, claro, receberam-nos de braços abertos e deram-lhes comida, abrigo, carinhos. Para eles também é ouro sobre azul: não necessitam de contratar bandas nem cantores mais ou menos profissionais e, encostados a um novíssimo franchising de ilusões, vêem as audiências e as receitas de publicidade disparar como foguetes numa festa de aldeia. Não há músicas originais (graças a deus) nem grupos desconhecidos sequer, malta que ensaia em garagens, gente que vendeu a avó em duas horas para comprar uma guitarra eléctrica, uma cítara, eu sei lá. Nada disso. É só vontade de melhorar, muita ambição, um mapa de atalhos para a celebridade instantânea, gel e camisas abertas ou o lábio inferior a tremer por ti, céline dijon, meu titanic na garganta. Programas de música a sério (não é música séria, tenham juízo) é que nem vê-los. Entretanto há uma geração que corre o risco de ficar embrutecida em frente a esse karaoke triste e sofisticado e uma outra já cansada que quer é sofá, um telemóvel-revólver e sim senhora, que bela voz a da rapariga e aquele rapaz também tem presença e enfim, tanta gente com talento e este país que –
Queremos três Salazares em cada esquina e julgamos que há uma centena de Billie Holidays escondidas em Massamá. Somos pessimistas à hora do telejornal e optimistas desvairados ao serão.
Queremos três Salazares em cada esquina e julgamos que há uma centena de Billie Holidays escondidas em Massamá. Somos pessimistas à hora do telejornal e optimistas desvairados ao serão.
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