Miss S.
Naquela manhã, Miss S. acordara cedo, pelas sete horas, num quarto de hotel. Chegada ao chuveiro e olhando a pequena prateleira, precariamente fixada aos azulejos por um par de ventosas, deparara-se com a combinação insólita de «champô para cabelos secos» e «amaciador para cabelos com tendência a oleosos». Segundo alguns relatos, Miss S. teria usado os dois, numa sucessão de gestos que muitos classificariam de imprudente. O cabelo ficou confuso. Não lhe assentava mal porque também confusa andava a cabeça de Miss S., por aqueles dias. Entretanto, tudo mudou. Hoje, Miss S. anda pelo jardim com um cabelo decente e aprumado. Mas agora o cabelo não lhe assenta nem bem nem mal, uma vez que Miss S. acabou por perder a cabeça na noite de 13 de Janeiro de 1981, entrando desvairada com um revólver pela casa, onze meses depois daquela manhã e por razões desconhecidas. Só Mr L. saberia explicá-las mas, infelizmente, desde 13 de Janeiro de 1981, já não pode contar nada, ainda que Miss S. duvide que a sua bala tenha encontrado um coração.
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