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sábado, janeiro 03, 2009

Quatro noites

O despojamento, só por si, não serve de troféu em lado nenhum, mas a verdade é que «Quatro noites com Anna», um filme feito com quase nada, merece os elogios todos porque é belíssimo, apesar de não ser um filme bonito e as personagens (gagas, lacónicas, fugidias) mal se conseguirem libertar da escuridão que as rodeia. Como o título indica, a história avança, com alguns flashbacks engenhosos, durante as tais «quatro noites com Anna», que são também quatro noites sem ela. Aliás, julgo que é desajustado dizer que o filme conta uma história de amor porque sempre que Léon se encontra com Anna, ela está quimicamente mergulhada no mais profundo dos sonos, graças a uns comprimidos que ele lhe desfaz no açucareiro, de modo a poder entrar, à socapa, em casa dela e, mesmo assim, ser bem recebido. Neste caso, ser bem recebido significa encontrar uma enfermeira roliça, adormecida e completamente disponível para a sua ternura. A dimensão sexual da obsessão, muito presente no início (ele assiste à violação de Anna por outro homem), é complementada, nas incursões dele pela casa, por um delicado teatro de pequenos gestos: ele pinta-lhe as unhas, cose-lhe o botão do casaco, oferece-lhe um anel, arruma-lhe a casa. Ainda assim, será talvez excessivo falar de história de amor porque, não esqueçamos, enquanto ele flutua de alegria pelo quarto, ela dorme toda a noite como um anjo e isso é um sossego. Ora o amor pode ser muitas coisas mas não é, com certeza, um sossego. Por outro lado, talvez o amor seja, sobretudo, uma incondicional e quase invisível atenção. Muito mais perto do desvelo ingénuo e subterrâneo de Léon do que do fogo-de-artifício que nos impingem as mil e uma comédias e tragédias românticas desta vida. De certa forma, Léon abdica do reconhecimento social e, por causa dessa desistência, acaba acusado de crimes que não cometeu. Mesmo Anna, sabendo que não foi ele que a violou, o abandona à solidão injusta da cadeia. Léon paga várias vezes o seu isolamento, a sua timidez, a inocência, a inabilidade no relacionamento com os outros, a excessiva subtileza no confronto com o mundo. E, claro, não escapa ao julgamento daqueles que ignora nem da mulher que deseja, mas não deve haver nenhuma alma que saia da sala de cinema sem perceber que há mais dignidade no seu sussurrar secreto por trás da cama de Anna do que no muro alto daquele plano final ou na justiça dos homens; como se o filme nos restituísse um esquecido respeito pelas coisas pequenas. «Quatro noites com Anna» é um filme sobre o público e o privado. E não sendo uma história de amor, é também sobre o amor.