Rewind
Julgo que foi o Michael Haneke quem disse, uma vez, que não gostava de flashbacks nos filmes porque estes lhe pareciam sempre explicativos. Um aborrecimento, portanto. Com a nossa memória passa-se o mesmo, é onde quero chegar, agora já sem o Michael Haneke. Tendemos a visitar o passado com o intuito de explicar o presente, à procura de resolver o novelo de complicações em que inevitavelmente nos enredamos, recuando e avançando sem critério. O ideal seria que a memória fosse incorporada no presente, abdicando dos truques todos. Sem enjeitá-la pois foi com as tempestades e a brandura do nosso passado que aqui chegámos, mas trasportando-a para a história de hoje, com leveza, tornando-a quase imperceptível ao primeiro olhar e muito mais funda quatrocentos golpes à frente, quatro noites, um verão escaldante, uma sonata de outono ou até nove semanas e meia depois. Impedindo, no fundo, contra todas as armadilhas, que ela se transforme num mau filme.
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