No Equador, os livros ficam pretos
Como não seria de esperar, pessoas bem colocadas no meio literário português (1ª Plateia, fila B, lugares 7 e 9), parecem determinadas em ocultar um dos factos mais relevantes para entender um certo tipo de angústia muito humana e que a publicação de 26 livros por ano não consegue dissipar. Felizmente, para os leitores atentos, existe o jornalismo de investigação e, para os desatentos, este blogue. O que esconde a letra éme de Gonçalo M. Tavares? Chapéus e emes há muitos, como se sabe. Não chegariam os dedos de todas as mãos para contá-los e aqui não pretendo recorrer aos dedos dos pés, sobretudo dos vossos. Pois bem, o b-site descobriu (acho este verbo extremamente adequado), depois de uma pesquisa minuciosa (este adjectivo parece-me bastante rigoroso, também), que o éme é a forma encolhida e envergonhada de escrever «MiguelSousa». Mas haverá alguém, em algum condomínio desta pátria, que ambicione conquistar a glória literária ou o coração pequeníssimo de Vasco Pulido Valente, capaz de resistir à publicação de 36 livros por ano com o nome «Gonçalo MiguelSousa Tavares» estampado na capa? Não há. E, para entender ainda melhor a difícil tarefa que seria encontrar um lugar digno para Gonçalo MiguelSousa Tavares (com este nome, imediatamente remetido para o Balcão Popular, fila Y, lugar 5), convém notar que a reprodução, em tamanho real, da fotografia de corpo inteiro de Gonçalo MiguelSousa Tavares resultaria muito mal na tenda da LeYa e teria dificuldade em fazer sonhar a mulher casada. É por isso que aquele éme ajuda Gonçalo MiguelSousa Tavares a cavalgar, sem embaraço, o perigoso condado da literatura portuguesa e a semear, todo contente, cada um dos seus 46 livros por ano.
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